segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Reflexão da Semana


A campanha ateia em autocarros ingleses deu que falar. Não é habitual que os desprovidos de crença religiosa decidam expandir a sua verdade e muito menos em anúncios pagos. Os reclames da Atheist Bus Campaign no exterior dos autocarros dizem apenas "Provavelmente não há deus. Pare já de se preocupar e goze a sua vida."

Os reclames da Atheist Bus Campaign no exterior dos autocarros dizem apenas "Provavelmente não há deus. Pare já de se preocupar e goze a sua vida." A mensagem pretende apresentar-se como puramente racional. Não há imagens, o anúncio é iconoclasta… mas nem tanto assim. As letras usam cores quentes (vermelho, amarelo, rosa) para transmitir alegria e diversidade. O pequeno texto tem as armadilhas próprias da publicidade. Diz que não há divindade, mas usa letras maiúsculas para que deus não apareça como o Deus das religiões monoteístas. E "no god" tanto pode ser "não há deus" como "nenhum deus". A mensagem visa abarcar qualquer divindade, qualquer religião. Já a palavra "provavelmente" surpreende numa mensagem que se esforça por ser assertiva. Os autores devem ter-se precavido em face da legislação aplicável. Esta dúzia de palavras devem ter sido escrutinadas por advogados. Na minha interpretação, os autores terão concluído que, em caso de acção penal, não podem provar que deus não existe. Porventura a mesma razão esteve na origem da célebre campanha em que a Carlsberg se vangloriava de ser "provavelmente" a melhor cerveja do mundo. O "provavelmente" poderá ser aqui apenas uma forma de não alienar a atenção dos crentes, aproveitando as suas normais dúvidas sobre as divindades. Assim choca menos os crentes. Note-se que os advérbios de modo servem amiúde de muletas do discurso falado ou escrito, pelo que não contam para a absorção da mensagem. Mas o que se lê nos autocarros londrinos é mesmo assim, até pelo tamanho maior das palavras "no god", um "não há deus" assertivo, não que isso seja só uma probabilidade.
O texto prossegue com uma falácia: faz da segunda parte do texto uma consequência da primeira. Diz ao observador que, não havendo deus, já não tem que se preocupar e pode desfrutar da sua vida. É uma superficialidade típica da publicidade e não um discurso racional. É certo que a religião pode causar problemas psicológicos, mas o anúncio parte de princípios falaciosos: que os crentes vivem preocupados e não desfrutam da sua vida; que os não crentes não vivem preocupados e gozam a vida.É digna de nota a necessidade de ateus publicitarem a sua não crença. Deve notar-se que a sociedade britânica é mais confessional do que as da sociedade do Sul da Europa, apesar de haver menos religiosidade na sociedade. A rainha é a chefe da Igreja anglicana. A BBC tem mais de mil horas de programas por ano de promoção da religião. A crença em deus é um ponto de partida. O agnosticismo e o ateísmo são bizarrias. No "site" da campanha, estes ateus britânicos compararam-se aos homossexuais quando "saem do armário". É um "coming out" publicitário. A campanha surgiu como resposta a uma campanha religiosa no Metro de Londres onde se prometia aos não crentes uma eternidade de "tormento no inferno". Os ateístas optaram por uma mensagem optimista garantindo ao leitor uma vida mais autónoma e feliz.É invulgar que o ateísmo se publicite. Ao fazê-lo, o ateísmo apresenta-se como uma crença. A crença na não-crença. Sendo o ateísmo uma crença sem igrejas, esta fez dos autocarros e do metro os seus templos, espaços comerciais ambulantes. Como já aqui referi várias vezes, as mensagens no exterior têm um impacto superior ao das que usam meios "individuais" e "privados" como a imprensa. Na rua, os anúncios são vividos como se em partilha, o que motiva graus de polémica e protesto superiores. Mais curioso é que os ateus não tenham escolhido um meio fixo como os "outdoors" e "mupis". Os autocarros levam a "boa nova" urbi et orbi, como as mensagens dos crentes das religiões expansivas. São uns não crentes fervorosos na sua crença. Que o seu não-deus os proteja! Provavelmente.

in Jornal de Negocios online (e edição impressa), 15-01-2009


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«"Provavelmente Deus não existe, pára de te preocupares e goza a vida" é a mensagem de alguns autocarros em algumas cidades. Penso que deve ser um anúncio por palavras, assim proponho-me completar um pouco o slogan que os ateus lançaram.

Provavelmente Deus não existe, por isso não uses o seu nome em vão.
Provavelmente Deus não existe, mas o teu pai e a tua mãe existem … por isso deves preocupar-te com eles.
Provavelmente Deus não existe, mas o resto das pessoas sim, por isso deves respeita-los, não deves atentar contra as suas vidas, não deves apropriar-te do que é seu: o seu dinheiro, o seu emprego, a sua mulher, a sua honra… com mentiras ou com falsos testemunhos.
Provavelmente Deus não existe, por isso deixa de O combater.
Provavelmente Deus não existe, por isso não O odeies.
Provavelmente Deus não existe, por isso não te ocupes a falar mal d'Ele.
Provavelmente Deus não existe, mas continua a haver pessoas a sofrer…
Provavelmente Deus não existe, mas há muitos que acreditam n'Ele.
Provavelmente Deus não existe, mas há muitos que sentem consolo em ouvir o Seu Nome.
Provavelmente Deus não existe, mas há muitos que deixaram o inferno das drogas e do álcool graça a Ele.
Provavelmente Deus não existe, mas há muitos que O sentem dentro de si.
Provavelmente Deus não existe, mas os que acreditamos n'Ele e temos posta a nossa confiança n'Ele, deixamos de nos preocupar pois Ele cuida de nós como um Pai amoroso cuida dos seus filhos, e graças a Ele vivemos uma vida que vai para lá da vida sensível que todos temos.
E o mais importante de tudo é que Ele nos ama e a nossa obrigação diante desse amor e amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todas as nossa forças…

Por isso, Deus existe e daí que não nos preocupemos e aproveitemos a Vida

Autor desconhecido

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